Joana França é uma fotógrafa brasileira formada em arquitetura pela UnB que atua no campo da fotografia de arquitetura. Dona de um olhar sensível para a cidade e para o objeto construído, França começou a fotografar aos 15 anos e desde então a arquitetura já figurava entre seus temas preferidos.
Nascida em Brasília, Joana encontra na capital brasileira um de seus principais objetos de exploração, tendo fotografado para o Guia das obras de Oscar Niemeyer – Brasília 50 anos, editado pela Câmara dos Deputados e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil.
Desde 2012, trabalha registrando as exposições de artistas plásticos pelo Brasil, com destaque para a publicação do catálogo "Peasant Da Vincis" das mostras brasileiras do artista chinês Cai Guo-Qiang, nos CCBB's de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, de 2013.
Leia a seguir a entrevista realizada com Joana França para nossa seção Fotografia e Arquitetura e veja também algumas belíssimas imagens selecionadas pela fotógrafa.
1. Quando e como começou a fotografar arquitetura?
De maneira livre, desde que comecei a fotografar, que foi quando eu tinha uns 15 anos. Meus pais são arquitetos e meu pai tinha uma F2, uma câmera clássica da Nikon, e um dia eu pedi a ele para me ensinar como usá-la. Com uma infância num lar com muitas referências arquitetônicas e modernistas, e tendo sido nascida e criada em Brasília, foi bem natural esse caminho pra mim. E também, habilidade social não era lá meu forte, então fotografar prédios foi uma boa saída...
2. Você é arquiteta?
Sim. Eu estudei por 6 anos na UnB, e hoje eu vejo que tudo que vi e aprendi lá me levaram a fazer o que faço agora.
3. Por que você gosta de fotografar arquitetura?
Porque está por todos os lados, e está sempre lá, então posso fazer meu próprio horário, inclusive fotografar obcecadamente, até conseguir o que desejo. Porque eu gosto do trabalho solitário e contemplativo. Porque a arquitetura varia muito com as mudanças de clima e de luz, tanto para melhor quanto para pior, e isso pra mim é um grande estímulo. Porque volta e meia aparece um humano na frente do prédio, fazendo algo completamente inesperado, e isso muda radicalmente a história que a foto conta. E eu vivo para esperar e para estar pronta pra esse momento. E, somando isso tudo, porque me da a chance de, nos meus melhores momentos, capturar um prédio ou um espaço público de um modo diferente, que mexe com a perspectiva das pessoas que se habituaram com eles, e deixaram de valorizar o que faz deles especiais.
4. Arquiteto favorito?
Bem... eu já trabalhei com grandes arquitetos, e muitos deles são meu amigos. Eu me apego muito aos trabalhos deles, e até às pessoas que moram e trabalham nesses espaços. Essas pessoas são geralmente muito receptivas e atenciosas em cada ensaio que faço. Então, além do produto final, que são as fotografias, eu tenho as memórias das experiências que vivi naqueles dias. Por isso, essa é uma pergunta muito difícil de responder.
Então eu vou dar uma resposta nada polêmica, e dizer que meu arquiteto favorito é Oscar Niemeyer. Porque, né... é difícil superar o que aquela trupe do Niemeyer, Lucio Costa, Burle Marx etc fez, ao projetar e construir Brasília, do zero, nos anos 50 e 60.
5. Edifício favorito?
Eu amo o prédio onde moro. Por motivos arquitetônicos e afetivos. E é provavelmente o prédio que mais fotografo também. Bem, pelo menos com o meu celular, que é minha câmera que está sempre comigo.
6. Como você trabalha? (Independente? Com revistas, arquitetos? Viajas?)
Eu trabalho contratada por arquitetos, revistas, livros, guias e todos os tipos de publicações e mostras de arquitetura. Para fotografar em prédios privados eu preciso agendar uma data, que é definida pela disponibilidade do responsável pelo lugar e muita consulta (e reza) à previsão do tempo, na espera por um lindo dia de sol e céu azul.
Na maioria das vezes os arquitetos vão comigo no dia das fotos. Conversamos sobre os melhores ângulos e eles me ajudam com os toques finais na produção do espaço. O ensaio fotográfico leva o tempo que for necessário, desde a luz da manhã até o lusco-fusco, e às vezes com retorno no outro dia, para concluir o trabalho.
Eu desenvolvo também meu trabalho pessoal que é de fotografia de cidades. Viajar é uma grande paixão, e um ótimo motivo pra produzir. Pra mim, nada é mais estimulante do que chegar pela primeira vez num lugar que me desperta interesse, sem ter hora pra sair.Além disso, tem também minha constante obsessão por documentar Brasília, já há 13 anos. É um trabalho de catalogação da cidade e de seus prédios, principalmente o que foge da Escala Monumental mais conhecida.
O trabalho com fotografia aérea também é uma grande paixão minha. Agarro qualquer chance de fazer um voo de helicóptero, ultra-leve, balão (ou até uma roda gigante ou uma cobertura com uma boa vista) pra ver a cidade numa perspectiva diferente.
7. Que tipo de equipamento e software você usa?
Como câmera eu uso agora uma Canon 5D Mark III. Mas isso muda a cada 3 anos ou menos, por causa do desgaste do equipamento. Para as lentes: a TS-E 17mm, a TS-E 24mm e a 24-70mm são as que mais uso, e o mínimo que levo pra um trabalho de arquitetura. Além do tripé. É um equipamento “de peso”, sem dúvida.
Depois das fotos feitas, todo meu fluxo de trabalho (desde baixar as fotos até exportá-las) é feito no Adobe Lightroom, as vezes, com um trabalho de Photoshop no meio do processo.
Eu sei que vocês não me perguntaram, mas... eu tenho que demonstrar meu respeito aos mestres e agradecê-los pelas coisas que eles me mostraram.
Michael Wesely, que tem um trabalho lindo de cidades e prédios em construção, fotografando com longuíssimas exposições. Eu dei a sorte de ter acabado de entrar na faculdade quando ele deu um curso de fotografia de arquitetura. Eu não sabia nem que podia ser fotógrafo de arquitetura. Que revelação! Desde então meu jeito de olhar a luz e o espaço mudaram radicalmente.
Nelson Kon, o mestre maior brasileiro de todos nós que nos chamamos hoje fotógrafos de arquitetura. Eu tinha acabado de sair da faculdade e descoberto que não queria ser arquiteta. Mandei um e-mail de fã para ele e meses depois estava eu lá sendo generosamente recebida em seu estúdio para uma conversa. Ele me levou para acompanhar um de seus trabalhos, e esse dia, observando e trocando ideias, foi a melhor capacitação que um fotógrafo pode sonhar ter.
Iwan Baan, que fotografa arquitetura e cidades como nenhum outro. Em 2010 ele estava na cidade para fotografar seu livro “Brasília-Chandigarh”, e eu tive o prazer de estar com ele e levá-lo para conhecer a cidade. Só de vê-lo em ação, com seu modo não-convencional de retratar uma cidade, me fez perceber um outro jeito de representação do espaço e de suas pessoas. O importante não é representar a arquitetura como uma construção imaculada, mas sim mostrar o espaço e a cultura que o configura.